segunda-feira, 6 de setembro de 2010

NÃO ACEITAR O QUE PARECE ADQUIRIDO COMO ARTIGO DE FÉ

Fátima não é artigo de fé para os católicos. Mas às vezes até parece que sim, sobretudo quando o próprio chefe da Igreja Católica vem a Fátima, parecendo dar aval a uma construção humana que muitos ainda atribuem ao divino.
Aprecio os homens que sabem dizer "NÃO!" Caso do Padre Mário de Oliveira.
Veja-se esta carta dele aos bispos portugueses, em 2007:


Meus irmãos Bispos

1. Completam-se, agora, como sabeis, 90 anos (1917-2007) sobre a grosseira mentira, posta a circular em 1917 no nosso país acerca dumas pseudo aparições de nossa senhora, sempre ao dia 13 de cada mês e durante seis meses consecutivos, de Maio a Outubro, a três crianças da freguesia de Fátima. Uma mentira que alguns párocos de Ourém e arredores logo habilmente aproveitaram (se é que não foram eles próprios os seus inventores, como tudo leva a crer que sim) e, depois, tudo fizeram para que ela fosse acolhida e interiorizada pelas populações católicas como a maior das verdades. Este crime sem perdão, que também perfaz um pecado contra o Espírito Santo viria a ser publicamente corroborado e apoiado, não muito tempo depois, por alguns bispos residenciais do país, nomeadamente, de Lisboa, Évora, Beja, Faro, Coimbra, Braga, Angra, Funchal e até do Porto, numa operação concertada, com tudo de maquiavélico e de perverso. Aliás, a diocese do Porto até cedeu um dos seus padres cónegos para 1.º Bispo residencial da Diocese de Leiria, restaurada, poucos meses depois (e não se diga que foi mera coincidência!). D. José Alves Correia viria a revelar-se como a principal peça-chave na consolidação definitiva de toda esta ignomínia.


2. A grosseira mentira teve, por isso, desde a primeira hora, pés para andar, até porque, além do mais, as populações católicas do país eram na altura (infelizmente, ainda hoje são!) populações esmagadoramente analfabetas em teologia jesuânica e viviam, por aqueles dias, visivelmente desorientadas e em pânico, devido à recente implantação da República e às drásticas medidas que aquela não se inibiu de tomar, e bem, contra os seculares e até então intocáveis privilégios do clero e da Igreja católica romana em Portugal.
Por outro lado, eram também populações completamente aterrorizadas por catequeses e pregações terroristas, proferidas noite dentro ou antes do nascer do sol, à luz fantasmagórica de velas (não havia luz eléctrica), proferidas do alto dos púlpitos paroquiais pelos padres da chamada Santa Missão, todas elas inspiradas no mais terrorista dos livros portugueses do século XIX que dá pelo nome de Missão Abreviada, escrito por um padre português, de seu nome Manoel Couto, ele próprio um perturbado e aterrorizado capelão de freiras em Chaves que via demónios em todo o lado, pecados mortais em todas as acções dos seres humanos, mesmo as mais inocentes, como dançar, namorar, abraçar e beijar, e horrendos castigos de Deus concretizados em insuportáveis labaredas do inferno que torturavam e faziam ganir como cães raivosos, dia e noite e por toda a eternidade, as almas dos pobres pecadores condenados, praticamente todas as pessoas até então falecidas (basta ver que, no dizer dessas terroristas catequeses e pregações, era mais fácil encontrar um corvo branco do que salvar-se uma alma!!!).


3. Digo-vos aqui publicamente, meus irmãos Bispos, e sem que a voz e a mão me tremam: São 90 anos de mentira, a mais grosseira e a mais cruel. E 90 anos de crime, o mais blasfemo e o mais horrendo, porque os seus mentores e divulgadores não hesitaram nem hesitam em meter os nomes de Deus, de Jesus e de Maria, sua mãe, em todo este “cozinhado” eclesiástico-católico sem pés nem cabeça, convertido, com o passar dos anos, numa engenhosa fábrica de fazer dinheiro sem paralelo no resto do país, porventura, até na Europa, totalmente isento de impostos (não é por acaso que qualquer congregação religiosa de frades ou de freiras não descansou, enquanto não conseguiu abrir uma casa em Fátima, o mais espaçosa possível, para nela acolher “peregrinos”, pois claro!), e num espaço-altar onde se promove e alimenta um certo tipo de cristianismo católico desgraçado, sem dúvida, o principal responsável por muito do saudável ateísmo generalizado com que hoje estamos cada vez mais confrontados no país e na Europa ocidental. (E como se não bastassem a enorme basílica-túmulo que lá funciona e a espaçosa esplanada com a sua capelinha-cofreforte-ou-banco, ainda se lhes junta este ano mais uma medonha Igreja, denominada da SS.ª Trindade, como se Deus Vivo, o de Jesus, alguma vez vivesse em templos construídos pela mão dos homens, nomeadamente, os homens do poder e dos privilégios, como são os clérigos que nesses locais, mentirosamente ditos sagrados, a tudo presidem como pequenos deuses infalíveis e intocáveis!...)


4. Quem lê com um mínimo de atenção ilustrada e evangélica e também com um mínimo de sentido de dignidade humana, a Documentação Critica de Fátima (hoje, já com vários volumes publicados), compilada com o propósito expresso de justificar cientificamente a veracidade das “aparições”, só pode concluir que, do primeiro ao último momento, tudo aquilo está atolado/conspurcado por pés, mãos e cabeças de clérigos e de bispos residenciais, completamente esvaziados de teologia jesuânica, todos firmemente apostados em impor aquela grosseira mentira ao país e ao mundo. Não há em todo o processo uma única voz dotada de bom senso e de sanidade mental e teológica. Todos os intervenientes actuam manifestamente com o típico espírito de zelosos “cruzados de Fátima”, numa causa que a hierarquia católica por nada deste mundo quis que ficasse pelo caminho, porque representava o seu maior trunfo-vingança contra a República e contra os seus nobres ideais de Verdade, de Liberdade, de Igualdade, de Justiça e de Dignidade humana.


5. O processo que se arrastou, ao longo destes últimos 90 anos e vai certamente prosseguir por muitos mais tem infelizmente contado com a criminosa cumplicidade, feita de distanciamento e de silêncio, de intelectuais católicos e não católicos, inclusive de teólogos e biblistas de todas as Igrejas, que teimam em optar pelo faz-de-conta, como se não fosse nada com eles. E, assim, o que pode ter começado por ser um ingénuo teatrinho catequético, concebido pelos padres da Santa Missão para tentar impor às populações das aldeias a reza do terço, a pia devoção ao Imaculado Coração de Maria e a confissão mensal, e também para meter algum “medo” e “respeito” aos “maçons”que fizeram a revolução da República, engrossou depois, através dos tempos, como um caudal de águas envenenadas, sempre com novos e surpreendentes dados, que nem os principais protagonistas de 1917 conheciam, e que foram sucessivamente acrescentados por clérigos sem escrúpulos, segundo as necessidades e as conveniências de cada momento histórico.
As delirantes Memórias da Irmã Lúcia, iniciadas em 1935 por pressão desses mesmos clérigos que faziam da pobre freira gato-sapato, são, neste particular, o que há de mais aberrante exemplo de manipulação clerical e de delírio eclesiástico. Mas são essas famigeradas Memórias que estão na origem da chamada “Fátima Dois”, por sinal, ainda totalmente desconhecida à data (1930) em que o 1.º Bispo de Leiria publicou a sua Carta Pastoral a dar como “dignas de crédito” as aparições e toda a mentira de Fátima que elas objectivamente constituem. Será que vós, meus irmãos bispos, não sabeis estas coisas? Será que preferis ser cegos e guias cegos?


6. Na retaguarda de toda esta mentira, tem estado sempre, desde o primeiro momento até aos nossos dias, um núcleo duro de cérebros clericais, poucos, mas bem concertados entre si. Ora, vestiram o papel de jornalistas que faziam caricatas perguntas às três crianças, ou o papel de inquiridores sobre o “fenómeno”, junto de crédulos e submissos paroquianos escolhidos a dedo. Eles próprios deram as respostas a essas perguntas como melhor convinha aos seus maquiavélicos propósitos (nada foi deixado ao acaso, mas foi assim que nasceu a chamada Documentação crítica de Fátima, toda ela cheia de parra e uva nenhuma, compilada/tratada “cientificamente” e editada, também ela por outros clérigos!); ora vestiram o papel de confessores e de directores espirituais das crianças, sobretudo da sobrevivente Lúcia, depois que esta foi empurrada por eles para a vida de freira de clausura (uma barbaridade sem nome, muito pior do que um ocasional crime de pedofilia!); ora vestiram e ainda vestem o papel de bispos que tudo aprovam e justificam como do interesse de Deus (para este tipo de eclesiásticos, os interesses da Igreja, mesmo os mais inconfessáveis e perversos são sempre interesses de Deus!); e, finalmente, até vestiram o papel de papa de Roma, com destaque para o polaco João Paulo II, um compulsivo fatimista primário, porventura bem-intencionado, mas que tudo tentou para levar de novo a Igreja do Vaticano II aos tempos e às alienantes devoções pre-conciliares, sem se aperceber que todas elas são pagãs, deístas, inumanas, e referentes ao universo religioso das deusas e dos deuses inventados por ancestrais medos das populações não ilustradas e não evangelizadas.


7. Como já disse, nada foi deixado ao acaso, desde o primeiro instante. Até que, em Outubro de 1930, a Mentira das aparições foi declarada digna de crédito pelo 1.º Bispo da restaurada diocese de Leiria, mediante uma Carta Pastoral que, só por si, deveria fazer corar de vergonha a Igreja do Concílio Vaticano II. O documento episcopal, datado de 13 de Outubro de 1930 foi publicado na íntegra, três dias antes, na edição de 10 de Outubro pelo diário católico “Novidades”!!! Apoia-se todo ele num extenso e prolixo Relatório, escrito pelo Cónego Nunes Formigão (querem agora beatificá-lo e canonizá-lo, certamente como recompensa pelos serviços que prestou à causa da mentira de Fátima!), o qual, por sua vez, quase se limita a transcrever pedaços inteiros dos delirantes livros que ele próprio havia escrito e editado anteriormente, sempre sob o pseudónimo de Visconde de Montelo, com o notório objectivo de impor como verdade a mentira de Fátima ao país e ao mundo.


8. A data escolhida para a aprovação oficial da mentira de Fátima também não foi inocente. O Estado Novo de Salazar dava então os primeiros passos e carecia como de pão para a boca duma mãozinha do “céu” (entenda-se, dos clérigos católicos) para se impor definitivamente no país contra a República de 1910 e contra os seus nobres ideais (e não é que há até uma carta atribuída à delirante Irmã Lúcia que fala de Salazar como o escolhido por Deus para conduzir de novo o nosso país aos caminhos da religião católica?!). Ora, como um favor com outro favor se paga, Salazar, uma vez consolidado no Poder, lá assinou a Concordata com o Estado do Vaticano e restituiu à Igreja portuguesa os privilégios dos clérigos e muito do património eclesiástico anteriormente nacionalizado.


9. Entretanto, das três crianças instrumentalizadas para ajudar a dar corpo à mentira de Fátima, todas elas de muito tenra idade e sem saberem ler nem escrever, Jacinta e Francisco eram irmãos de sangue, primos e vizinhos de Lúcia, a mais velhinha, a quem por isso coube naturalmente o papel de actriz principal em todo aquele teatrinho de mau gosto. Foi também a única que sobreviveu a todo aquele frenético alvoroço eclesiástico das pseudo-aparições, já que Jacinta e Francisco, de tão fragilizados e aterrorizados pelo medo do inferno incutido pelos pregadores da Santa Missão não resistiram à pneumónica que, pouco tempo depois da mentira de Fátima, grassou na região e dizimou muita gente (como vêem, meus irmãos Bispos, nem a senhora de Fátima, com tanta fama de milagreira lhes valeu, nem valeu às populações empobrecidas da região). Mas o que ainda mais dói, na morte antes de tempo destas duas crianças irmãs é o escandaloso abandono a que Jacinta e Francisco foram votados, durante a doença, por parte dos clérigos que as utilizaram, como a deixar perceber que até lhes convinha que elas morressem. A mentira de Fátima teria assim mais facilmente pés para andar. O que veio a suceder, sobretudo depois que conseguiram manter sequestrada por toda a vida e em progressivo estado de delírio, a única sobrevivente, Lúcia.


10. Eis, meus irmãos Bispos o que achei por bem dizer-vos nesta ocasião dos 90 anos da mentira de Fátima. Não me queirais mal por isso. Sabei que o que me move é o amor à causa do Evangelho que, como presbítero da Igreja do Porto, me cumpre anunciar oportuna e inoportunamente. Ai de mim, se não evangelizar. Bem sei que a mentira de Fátima é por vós oficialmente apresentada, desde a primeira hora, como uma epifania de Deus. Mas esse é o seu pecado maior. Porque a Deus, o de Jesus, nunca ninguém o viu nem verá. “O Filho unigénito, que é Deus e está no seio do Pai, é que O deu a conhecer" (Jo 1, 18). Sabeis como eu que o que não for assim é mentira, delírio, perversão demoníaca. Nem argumenteis que há fenómenos que nos ultrapassam e que não somos capazes de explicar. Porque, em nome da Fé de Jesus, uma coisa sempre teremos de dizer: Pois se não sabeis explicar este ou aquele fenómeno, investigai mais, até conseguirdes. E, enquanto não conseguirdes, livrai-vos de, em momento algum admitir que pode ser uma manifestação miraculosa de Deus. Nesse momento, abristes a porta à idolatria, a mais abjecta. E não será por sermos um país caído em idolatria, praticamente desde a fundação da nacionalidade, que somos hoje o povo que somos? Pensai nisto que vos digo, meus irmãos bispos. E, se tiverdes coragem, mudai radicalmente de vida e de Deus. Abandonai o falso Deus da senhora de Fátima, com tudo de vampiro e de demoníaco, e deixai-vos amar/conduzir pelo Deus Vivo, o de Jesus. E de Maria. Deixo-vos o meu afecto e a minha paz.



A idealização e a pobre realidade...





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