sábado, 2 de janeiro de 2010

OS COMUNISTAS

Os comunistas que eu conheço não me parecem homens livres, no sentido que tinha, antigamente, a expressão "livre-pensador"...

Do meu ponto de vista essa é a sua grande (irremediável?) fragilidade política. Fora da ortodoxia de catecismo não são capazes de dizer nada de verdadeiramente esclarecedor sobre a realidade sócio-política que nos rodeia, nada que abra caminhos de compromisso político numa sociedade que não pensa maioritariamente como eles. Há dezenas de anos que as "teses", as "análises políticas", os "comunicados do C Central", etc., repetem o mesmo jargão, de que já sabemos o fim assim que lemos o primeiro parágrafo.

Porque é que ainda me ralo com isso? Não é por espírito de missão. É porque me chateia - e muito! - que um ideal em que acreditei e pelo qual lutei seja, afinal, uma enorme ilusão, como a História do séc. XX amplamente documenta mas que os comunistas portugueses teimam em ignorar. Para eles foi tudo uma questão de más práticas que o PCP em Portugal nunca teve nem nunca terá. Mas quem está de fora vê bem como as suas práticas são exactamente as mesmas que levaram aos regimes totalitários que eles criticam. Não os critico por ser anti-comunista primário, ou por estar a soldo da burguesia ou por outras fatuidades com que os comunistas brindam os que não concordam com eles e têm a ousadia de o dizerem em voz alta. Critico-os porque sou LIVRE! Porque não acredito em ortodoxias doutrinárias, de carácter político ou religioso. Porque acredito que o futuro da humanidade não está em vanguardas iluminadas mas sim em homens livres, instruídos e respeitadores dos outros homens.

Os comunistas não são homens livres, também porque a sua ideologia, denunciando a religião como ópio do povo, os leva a organizarem-se e a agir como membros de uma seita religiosa.

A este propósito é muito interessante este extracto do Blogue " DE RERUM NATURA", de 28 de Outubro de 2009:


Excerto do último livro do filósofo e escritor Onésimo Teotónio Almeida, "De Marx a Darwin. A Desconfiança das Ideologias", publicado há pouco na Gradiva:

"O marxismo aparece deste modo - Karl Popper apontou-o muito bem - como sistema metafísico não-falsificável, com todos os atributos de uma religião que opera enraizada numa fé não assente em princípios empíricos nem jamais sujeita à obrigação de demonstrações racionais dos seus axiomas de base. Esse sistema metafísico aliás - e não me parece de modo nenhum absurdo aventá-lo - seria assim uma espécie de versão secular da história bíblica judaico-cristã. O paraíso terreal existiu de facto e o ser humano era bom, mas o capitalismo foi, infelizmente, o pecado original que lançou a humanidade na senda de uma história de lutas de classes. No entanto, Marx vai ser o profeta da recuperação do estado original de graça. Fundando a sua Igreja e rodeando-se dos seus apóstolos, vai fazê-los militar na luta pela segunda vinda dessa ordem natural onde de novo reinará o bom selvagem. A felicidade, porém, não acontecerá no outro mundo, mas sim neste, e inevitavelmente virá.
Acredito que haja nesta síntese algo de exageradamente redutor, todavia insisto na paridade lógica das duas metafísicas - a marxista e a cristã. O carácter dogmático da sua doutrina é apenas uma faceta adicional a intensificar a legitimidade desse paralelo."

Onésimo Teotónio de Almeida

1 comentário:

  1. Saudações!

    Uma bela análize Méon, o trecho escolhido da obra de Onésimo caiu muito bem. No entanto, como deves ter conhecimento, pelo menos entre os comunista que eu conheço, todos sabem que as famigeradas ditaduras comunistas seriam um penoso e indispensável caminho para a redenção. Como se através da força, eles reorganizassem toda descontrução capitalista. O que de fato, jamais aconteceu, e entristecido, custo acreditar que um dia chegaremos lá. O paralelo, entre as lógicas metafisicas marxista e cristã, traçado por Onésimo é deverás interessante, se o profeta Marx estivesse por aqui, eu queria assistir de camarote esse debate! hahaha

    De uma passada em meu blog camarada (sem conotações políticas), estou começando a postar alguns contos e poesias, comente alguma cousa por lá...

    Hasta!

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