sábado, 3 de outubro de 2009

MISTIFICAÇÕES


O comunicado do PCP sobre os resultados eleitorais de 27 de Setembro mostra, mais uma vez, como os comunistas portugueses distorcem a realidade.

Para eles, só os votos no PCP têm significado. Os votos nos outros partidos -a esmagadora maioria, se comparados com os menos de 500 mil que eles obtiveram! - são analisados como sendo resultado de distorções, enganos, hesitações, conluios, ilusões, manipulações. Para além do escasso meio milhão deles, o resto é poeira.

Chama-se a isto MISTIFICAÇÃO política. Serve para manter a ilusão de que são a única fortaleza de defesa dos trabalhadores e para segurar lá dentro as hostes dos fiéis que, eleição após eleição, correm atrás da esperança de um dia vencerem as eleições.


Eu seria o primeiro a saudar os deputados comunistas eleitos se soubesse que eles assumiriam as suas responsabilidades e estariam dispostos a dialogar com as outras forças políticas para formar um Governo estável ou para fazer compromissos pontuais. Mas sei que não vai ser assim. A análise que o PCP faz aos resultados eleitorais reforça o muro monolítico em que se tornou a sua posição política. Para ele, Partido Comunista, só interessa a "ruptura e a mudança". Que o resto do eleitorado diga claramente que quer compromissos à esquerda, isso não tem significado. Que exista uma nova força política à esquerda - o Bloco de Esquerda - tal é irrelevante, mesmo que tenha mais deputados que o PCP. Veja-se o modo acintoso como o comunicado do Comité Central se refere ao BE, de que só fala uma vez, metendo-o deliberadamente no mesmo parágrafo em que refere o PSD e o CDS:

«Beneficiando das dificuldades do PSD e de uma campanha construída na base da demagogia, do populismo e da instrumentalização de sentimentos, o CDS-PP cresceu nestas eleições. O crescimento do BE não é separável da hesitação ou recusa de muitos eleitores desiludidos com o Governo do PS em expressar um voto determinado pela exigência de uma efectiva ruptura com a política de direita.»

O ar de avozinho amistoso de Jerónimo de Sousa ou o folclore de "solidariedade de classe" da festa do Avante não nos devem levar ao engano. Vejam-se os blogues dos comunistas e o estilo dos seus comentadores; e vejam-se os seus escritos na imprensa: eles mostram como esta força política é uma religião de fanáticos, incapazes de aceitarem as opiniões alheias quando não coincidem com as suas. Deles não se pode esperar que ajudem a formar o Governo de que tanto necessitamos.

1 comentário:

  1. Isto é que é um verdadeiro espírito de missão! Legítimo, claro... :-)

    ResponderEliminar