domingo, 12 de dezembro de 2010

TEXTOS QUE NÃO PODEM FICAR ESQUECIDOS

O CONTRATO CÍVICO PARA ALARGAR A DEMOCRACIA À ECONOMIA

Do Blogue ANOVIS ANOPHELIS

O problema maior da nossa época é o do desemprego, da exclusão e da miséria que daí resulta. Como Alain Lebaube bem o disse: “ o que chamamos crise é com efeito uma mutação” e só descreveu o seu aspecto a propósito do trabalho. Ora a nossa sociedade está de tal modo assente no trabalho que a educação não tem como fim formar homens, mas trabalhadores, é o emprego que define a condição social, a ausência de emprego é entendida não como uma isenção, mas como uma exclusão, e mesmo toda a actividade que não se exerça no quadro dum emprego, logo “rentável”, é tratado com desprezo como “marginal”. É portanto uma mutação de toda a sociedade que está em curso, e a questão a colocar é: será uma catástrofe fatal ou somos nós capazes de pilotar esta mutação para que ela escoe sobre uma sociedade humanamente mais consistente?

Fatalidade? O que é fatal, é, em todos os seres vivos, a necessidade de procurar sobreviver. Mas o homem, e é o que o distingue dos outros animais, esmerou-se, ao longo dos milénios, a tornar esta obrigação o mais ligeiro possível, e soube, de geração em geração, acumular saber, e mesmo saber fazer. E eis que esta progressão, muito lenta ao princípio acelerou-se consideravelmente, ao ponto que nalguns decénios pôs os meios que lhe permitem hoje fazer produzir o que tem necessidade por encomenda, pela natureza e por autómatos! Encontrou como assegurar a sua sobrevivência sem consagrar a isso toda a sua vida.. Uma tal mutação na sua maneira de assegurar as suas necessidades vitais transforma evidentemente o seu modo de vida e assistimos a uma perturbação tão grande que aquele que se produziu ao neolítico, mas infinitamente mais rápido. Como não nos havemos de admirar, por consequência, que a adaptação a tais mudanças não se faça sozinha? O homem adquiriu os conhecimentos necessários para exorcizar a fatalidade, mas o que ainda não conseguiu, é adaptar-se.

Como pilotar a adaptação? A atitude mais geral releva efectivamente da incapacidade política. Consiste a agarrar-se ao passado, a recusar ver a importância da mudança, olhar para ela para a negar. É ao fechar os olhos que se obstina ainda a falar de crise e a fazer crer que se vai encontrar o meio de criar novas aplicações para regressar à situação anterior do pleno emprego que assegurava a todos um amplo rendimento… Sem ver que esta fuga para a frente implica um crescimento irrealista e perverso. Pois o crescimento nunca cessou, a produção mundial foi multiplicada por 2,5 entre 1960 e 1990, mas paralelamente o número de horas de trabalho salariado não cessa de diminuir ( no caso francês passou de 40 para 35 biliões, entre 1973 e 1994), de modo que o crescimento acompanha-se agora dum desemprego igualmente crescente o que , no sistema económico em vigor, engendra a exclusão.

Se o sistema fosse perfeitamente liberal, todos os que não se podem vender no mercado de trabalho seriam eliminados. Mas lutas sociais persistentes forçaram as instituições a tomar medidas para evitar semelhante catástrofe, e é assim que o Estado, no nosso sistema de mercado emendado, organiza uma certa redistribuição . Mas esta redistribuição não satisfaz ninguém, nem aos quais se retoma uma parte do que ganharam, nem os que se sentem assistidos quando têm a mostrar que são capazes também do mesmo modo daqueles que têm um emprego. Mais, a redistribuição atingiu os seus limites: o fosso que separa um pequeno número de ricos, cada vez mais ricos, duma massa de pobres, cada vez mais miseráveis, não cessa de aumentar, e isto em todo o mundo. E no mesmo tempo, a pressão da competitividade exerce-se para restringir esta redistribuição e a por fim ao que chamamos o Estado providência.

Os programas políticos que no entanto se proclamam de “progressistas” obstinam-se em sonhar com criações de emprego: é a absurdidade do emprego pelo emprego, quando é necessário render-se à evidência: as empresas só podem pagar os empregos de que têm necessidade. E a sua produtividade é tal que terão cada vez menos necessidade.

Partilhar o emprego que resta? Sim, é claro. Mas não como se partilha a miséria, continuando a pensar que toda a riqueza só pode vir dum emprego. É totalmente absurdo na nossa época onde se produz cada vez mais, mesmo com cada vez menos labor humano.

Ao contrário, sentimos que existe uma infinidade de actividades úteis, e mesmo necessárias, mas o sistema capitalista não as pode financiar que por redistribuição logo, indirectamente, graças ao emprego de produção, e é cada vez menos possível.

É necessário ver a diferença: o emprego que desaparece, é o emprego mercador, aquele que contribui à produção de riquezas que, vendendo-se, ( reembolsam) pagam o emprego.

Quando o trabalho de todos era necessário à produção, o salário assegurava, mais ou menos equitativamente, mas automaticamente, o equilíbrio entre produção e consumo.

Desde que a produção não tem necessidade do trabalho de todos, é este equilíbrio emprego/lucro que é rompido, o poder de compra das riquezas que são produzidas não é mais distribuído pelo sistema capitalista entre todos os consumidores que têm necessidade.

O salariado, após ter durado cerca de dois séculos, desde o início da era industrial, teve portanto o seu tempo. É urgente mudar as regras do jogo. È necessário um projecto social para adaptar a nossa sociedade aos meios de que dispomos hoje em dia.

O que foi proposto por uns quantos sob o nome de economia distributiva embora com origem em Proudhon pareceu a muitos nos anos 50, muito avançado para o seu tempo. Mas hoje, os factos demonstraram as pertinências das análises e das proposições distributivas. E outras exigências apareceram: por um lado, a centralização das decisões impõe receios, após a experiência soviética, por outro o desenvolvimento da bula especulativa mostrou a impotência dos governos, mesmos ditos democráticos, face à finança internacional, e enfim a mundialização da economia suscitou, por reacção, o desenvolvimento de economias locais, à escala humana. Tudo isto fez nascer, ou revelou, a necessidade de estender a democracia à economia. Vou tentar mostrar como o contrato cívico, em economia distributiva, responde a estes diversos objectivos.

Vamos por tudo em pratos limpos. O problema não é de produzir mais. Sabemos fazer, sob encomenda, e poderíamos produzir bem mais, sem resolver a “crise” do emprego. Produzimos muitas vezes coisas inúteis, coisas nocivas, e com desprezo de toda a consideração ecológica, sempre por causa da rentabilidade, Só produzimos em consideração dos únicos bens que se podem pagar. O problema situa-se agora ao nível do acesso a esta produção, logo à distribuição do poder de compra.

É o câmbio dum trabalho contra um poder de compra que é a repensar.

Não somente pelas razões indicadas anteriormente, mas principalmente por outras: a parte do trabalho humano diminuiu bastante ao nível da produção, mas por outro lado, a parte de cada um é cada vez mais de contorno impreciso: o essencial faz-se a montante, não é mais o trabalho presente que conta, é o da concepção, da informação, da organização e os seus novos métodos são o fruto dum progresso geral anónimo e comum. Como pretender avaliar a aparte de cada um numa produção tornada colectiva? E para além disso, é necessário reconhecer e mesmo estimular toda a actividade útil que não entra no campo das que são qualificadas de rentáveis.

Para quê substituir o salariado para responder a estes diversos objectivos?

A minha resposta é: pelo contrato cívico. E passo a explicar.

A permuta quase pontual e quantitativa dum trabalho preciso, limitado e portanto a maior parte das vezes sobre um tempo bem determinado ( por exemplo para a duração legal do trabalho semanal) fornecido por um empregado em troca dum salário convencionado ( à hora ou tanto por mês) pago pelo seu empregador, enquanto que a sua empresa é beneficiária, deve dar lugar doravante a um outro tipo de troca, a uma troca menos pontual, um contrato personalizado entre o cidadão e a sociedade na qual vive. Quer dizer em troca dum rendimento como meio de subsistência pela sociedade, contra um compromisso de participação, segundo as aptidões do indivíduo e segundo as necessidades do conjunto, à vida desta sociedade.

Sem entrar em grandes detalhes, vamos rapidamente compreender que este novo tipo de contrato social não somente vai dar a cada um a possibilidade de organizar a sua vida ( e é essencial para que ele possa desabrochar e desenvolver o melhor dele mesmo: escolhendo as suas actividades, vai escolher também o seu modo de vida para exercê-los nas melhores condições); mas mais ainda, os debates em redor dos contratos vão permitir conciliar as necessidades de liberdade e de autonomia dos indivíduos com as necessidades duma produção definida em vista de satisfazer as necessidades de todos: a iniciativa deixada ao cidadão vai desenvolver a criatividade geral e o debate político que vai suscitar vai permitir adaptar democraticamente a nossa civilização à complexidade que caracteriza a nossa época.

O ensino inicial não terá mais por objectivo tornar um jovem assalariado, mas o de lhe mostrar todas as possibilidades que se abrem diante dele. Assegurar um rendimento suficiente para viver decentemente, este jovem poderá prosseguir esta formação até encontrar a sua voz, e mesmo, eventualmente, fazer vários ensaios, fazer viagens, antes de se consagrar, por exemplo a tempo inteiro, durante vários anos numa empresa. Tal poderá decidir, mesmo jovem, de se comprometer a meio tempo numa empresa, e de consagrar o resto do seu tempo, ou a ocupar-se dum parente, ou duma administração, ou ainda empreender uma nova formação e reorientar-se. Tal outro, após alguns anos numa empresa, ou num serviço público, ou dum trabalho de produção artesanal, poderá tomar um ano sabático para cultivar o seu jardim. Ou poderá mudar de casa, construir a casa, iniciar-se à apicultura antes de se transformar em produtor de mel e conselheiro em apicultura. Outro ainda, fazendo valer a experiência adquirida, poderá pedir os meios de prodigalizar os conselhos a partir dele. Um outro ainda, inspirado, quererá tempo para escrever um livro um uma ópera, para fazer uma investigação, ou seguir o treino intensivo dum desporto, ou para se consagrar à vida política, ou então pedirá os meios de explorar um alvará, etc. etc. Imagine-se a infinidade de combinações de todas as actividades possíveis.

Mas, bem entendido, o facto de vivermos em sociedade implica leis e certos constrangimentos. O primeiro deriva da necessidade de assegurar a continuidade da produção, organizando-a em função das necessidades. Isto implica que haja um mínimo de pessoas que dedicam ao menos uma parte do seu tempo à produção de bens e de serviços. Mesmo que estas possam ser realizadas utilizando as técnicas mais avançadas, e que o progresso técnico diminuirá deste modo o tempo alienado, será necessário impor a cada um o consagrar-se ao longo da sua vida um mínimo de tempo, medido por exemplo no número total de dias ou de horas, este tempo podendo aliás variar consoante o tipo de actividade escolhida.

Compreende-se portanto que a decisão de aceitar, de corrigir ou de rejeitar uma proposição de contrato cívico é essencialmente política e deverá, por consequência, fazer objecto dum debate público e democrático.

Importa que todo o indivíduo tenha a possibilidade de definir ele próprio o seu contrato, mas é evidente que um grupo pode ter posto a funcionar uma proposição comum, do mesmo modo que ofertas de contrato podem emanar de empresas tendo necessidade de se desenvolver. O mais simples dos contratos é evidentemente aquele que consiste em continuar o que se faz: será de todos os activos, satisfazer a sua sorte; para eles a proposição de contrato não será mais que a descrição do que fazem, eventualmente com o pedido duma promoção ou duma mudança no seio da mesma empresa. Os contratos mais complicados dirão respeito as proposições originais de actividades novas, como o estudo ou a obtenção de um diploma, será preciso, naturalmente, descrever a motivação, o objectivo a alcançar, mostrando a possibilidade de realização e a utilidade esperada.

Em todos os casos, é preciso que todas as propostas sejam publicadas, com antecipação, em seguida publicamente debatidas. Segundo a envergadura da proposição, o debate terá lugar ao nível municipal ou regional, ver mesmo internacional, seguindo o princípio de subsidiaridade, por assembleias públicas suficientemente abertas, constituídas pelo menos por tantos utentes interessados pelo projecto como de profissionais que lhe digam respeito, e também a especialistas do meio ambiente, de saúde, do direito, etc. Podemos muito bem imaginar que pessoas se encarreguem de trazer informação assistindo aos debates em diferentes lugares, sobre certos tipos de contrato, para comparar as experiências, ver para aconselhar os proponentes: novas profissões são a inventar!

A maior parte dos contratos necessitarão, com efeito, de avaliações: avaliações de competências, provas de experiência já adquirida, avaliação dos meios, dos investimentos necessários à execução do contrato, e enfim, a avaliação dos produtos do contrato e das gratificações particulares pedidas pelos proponentes para eles próprios. Certos contratos comportarão o empenhamento duma produção, em quantidade e em qualidade. Naturalmente que toda a avaliação preveja uma margem de erro que, deverá também ela, ser estimada. São estes empenhamentos e estas estimativas que servirão de base a uma verdadeira prospectiva económica, evidentemente necessária se temos a preocupação de bem gerar a economia geral, mas impossível no sistema actual, onde o que chamamos desde há pouco o desenvolvimento “sustentável” não é mais que um voto piedoso.

É desta maneira que as decisões económicas poderão finalmente ser tomadas não mais, como actualmente, por bancos e organismos similares, com o único critério de rentabilidade financeira ( atribuído aos accionistas), mas tendo em conta todos os aspectos pertinentes: desde o interesse prático do consumidor até ao preço de produção, em tempo de trabalho e em matérias primas para o conjunto da sociedade, passando por considerações de ordem ética, ecológica, moral, cuidados de saúde, de não poluição, de qualidade do meio ambiente, de preservação dos recursos não renováveis, etc. Por exemplo, no caso de empenhamento de grandes investimentos, será necessário exigir que os contratos definem cláusulas de insucesso, a fim de prever a reconversão possível dos investimentos, e que se pare de ver estes terrenos industriais, na maior parte das vezes poluentes e dos quais ninguém hoje em dia se sente responsável e onde não se pode financiar nem a reconversão nem a destruição.

A duração ideal dum contrato parece ser o ano. No vencimento, todo o contrato deve poder ser reconduzido, seja melhorado ou mudado, mas em todos os casos dando conta da sua execução. Se o empenhamento foi mal executado, será evidentemente difícil ao titular do contrato de obter a recondução. Se a produção foi mal estimada, será levado a fazer a correcção necessária, etc. Mas se a execução foi melhor que a prevista, a sua renovação poderá implicar um bónus, um aumento dos rendimentos do ou dos titulares. São também estes relatórios dos contratos havidos que permitiram repartir o mais equitativamente possível os anos sabáticos e os anos de “labor” duma vida, a partilha entre tempo ao serviço dos outros e tempo de férias, de lazer para si.

Compreende-se como o empenhamento dos contratos cívicos permitem avaliar publicamente e em contínuo, os investimentos necessários, os custos de produção no mesmo tempo que as riquezas que vão ser produzidas. Tecnicamente, trata-se de gerar os dados fornecidos pelos centros de decisão exactamente como a Bolsa gera hoje em dia, e em contínuo, e no mundo inteiro, instantaneamente pois trata-se da velocidade da luz, de enormes quantidades de dados que lhe provem de todo o lado. Os sistemas informáticos estão prontos para estabelecer uma verdadeira prospectiva e uma gestão democraticamente concertada da economia em diferentes escalas, desde a escala local até à escala mundial.

Em economia distributiva, o financiamento é evidente: para que haja equilíbrio entre os bens a vender e os rendimentos dos consumidores, o poder de compra total destes últimos é igual à diferença entre o valor das riquezas produzidas e os seus custos de produção.

Isto realiza-se muito simplesmente com a ajuda duma moeda de consumo, quer dizer duma moeda que não circula, que só serve uma vez para assegurar a passagem dum bem ou dum serviço do seu produtor ao seu consumidor, como um bilhete de comboio. O montante da massa monetária produzida durante um período dado é igual ao preço total dos bens postos à venda. Deste modo, a toda nova produção corresponde a emissão duma nova quantidade de dinheiro. Todos os cidadãos têm uma conta individual, que é periodicamente reabastecida. Estas contas são debitadas a cada compra, a conta correspondente estando anulada. Isto não pede nenhuma técnica nova, todos os meios existem para a realizar: só é preciso que um organismo público seja habilitado a alimentar cada uma das contas pessoais. Para os débitos, a maior parte dos retalhistas estão já equipados com máquinas que debitam as contas lendo, por exemplo um cartão magnético.

Por outro lado, os processos de criação monetária e de anulação de crédito são clássicos: os bancos praticam-nos todos os dias: abrem um crédito por um simples jogo de escrita, quer dizer que agora a soma é registrada num computador, e anulam o crédito, logo que os clientes os reembolsam, por um outro jogo de escrita contabilizável, seja ainda pela cunhagem da soma, mas desta vez precedida dum signo negativo, sobre um registo do mesmo computador que precedentemente. A diferença está em que no sistema actual estes meios são privilégio dos bancos, que criam a moeda segundo os seus próprios critérios e reservam o seu interesse sob a forma duma percentagem; enquanto que em economia distributiva, são organismos públicos que assumem a responsabilidade executando as decisões democraticamente tomadas considerando todos os critérios pertinentes, e que não adiantam nenhum interesse. É deste modo que os conselhos económicos e sociais onde são debatidos os contratos cívicos, substituem, em economia distributiva, por sua vez os conselhos municipais ( ou regionais, etc.) e os bancos.

Como deve ser repartido o poder de compra disponível? É fundamentalmente um problema político, e que é essencial.

Hoje em dia esta repartição resulta da lei do mais forte, ou do mais rico. Inversamente, poderíamos decidir que é igualmente repartido entre todos os cidadãos é a igualdade económica descrita por Proudhon ou o salário social segundo os termos actuais. Mas esperando que todo o mundo esteja de acordo para esta igualdade dos direitos no domínio económico, é o contrato cívico que permite estabelecer democraticamente a maior equidade possível.

O que sugiro, é que separemos em dois a massa de poder de compra a repartir: que uma parte constituindo o rendimento social, igual para todos, e que a outra parte seja distribuída em rendimentos personalizados, definidos nos contratos cívicos. A relação entre as duas partes, o montante dos rendimentos sociais sobre o montante dos rendimentos personalizados, resultará dum debate de política geral. Entre a igualdade económica, que corresponde a um valor infinito para este rendimento, e o valor zero que existe hoje em dia para os desempregados declarados “ em fim de direitos” ( que bela expressão a comparar com a declaração dos direitos do homem!), pode decidir-se um valor intermédio e, segundo as necessidades, para estimular mais ou menos as pessoas, fazer variar este rendimento.

Cada conselho ( local, regional, etc.) vai deste modo dispor duma cobertura para discutir os contratos que lhe serão submetidos. Se o conjunto dos contratos espontâneos permite assegurar a produção desejada, será fácil encorajar contratos de inovação e de aceitar anos sabáticos. Se pelo contrário certas produções, serviços públicos não estão ainda em pleno funcionamento, será possível encontrar candidatos publicando ofertas atraentes, ou estimulando as pessoas através de rendimentos personalizados maiores.

O que isto mostra é que contrariamente, talvez às aparências, a economia distributiva não suprime o mercado. Ela não o suprime: remete-o ao seu lugar, à escala humana, mesmo individual, ao nível dos contratos. Ela devolve-lhe o seu papel essencial que é de confrontar as necessidades de uns com as de outros, as aspirações e os meios de os satisfazer.

Vendo toda a elasticidade que este projecto permite, compreende-se que ele é a chave da extensão da democracia em matéria económica.

Em economia de mercado capitalista, pelo contrário, quem decidiu do tipo de desenvolvimento que levou populações inteiras a abandonar as suas culturas de subsistência e a dever a sua sobrevivência à cultura da droga? Como financiar aqui todos os contratos cívicos, quer dizer do mesmo modo os empregos produtivos e as actividades úteis mas não rentáveis, todo este terceiro sector associativo que não é “competitivo” mas que se desenvolve porque corresponde a uma necessidade de convivência?

Não há dinheiro para devolver a dignidade a todos os excluídos do sistema produtivo, mas os paraísos fiscais permitem às multinacionais de subtrair aos estados somas mais importantes que os orçamentos nacionais. Não há fundos que permitem, por exemplo, aos intermitentes do espectáculo, ter uma vida decente, mas já se encontra para construir em tempo recorde um gigantesco estádio para ser a moldura duma competição. Considera-se que a saúde é arrastada a despesas insuportáveis à sociedade, mas os espectadores podem ganhar milhões instantaneamente, sem mesmo ter os fundos que comprometem! Será que todas estas escolhas foram objecto dum debate?

No sistema capitalista, pondo de lado os meios ilegais como o roubo ou a violência, há somente dois meios para corrigir estes excessos e estes absurdos. Oficialmente, é a redistribuição, para financiar algumas necessidades insolventes com a ajuda de taxas pagas por aqueles que ainda têm um emprego. Mas o limite está prestes a ser atingido. Em França a taxa Tobin, que iria permitir taxar ( 1 por mil!) as fortunas construídas com base nas especulações sobre as taxas de câmbio nunca foi aceite, tão contrária ela é ao espírito do capitalismo. O outro meio é marginal, é a organização espontânea e um pouco o desenrascanço individual, como os sistemas de trocas locais. Mas é uma gota de água no oceano, que não pode impedir as grandes catástrofes, nem gerir o conjunto da economia, nem por termo às mafias. Podemos, talvez, esperar que estas gotas de água façam grandes rios, que comunas, em seguida cidades, e por aí em diante, tomem a iniciativa de criar as suas moedas locais, se dotem dum banco próprio em seguida gerir as suas produções segundo os seus próprios critérios, mas podemos também duvidar que se vá desta maneira muito longe, quando vemos que há tentativas para recuperar estes esforços ao serviço do liberalismo, dizendo em substância: “ Se se organizam à margem do Estado, este último não é mais responsável pela miséria, cada um por si, e o Estado para os melhores”.

É claro, que a economia distributiva perturba os nossos hábitos. É uma maneira nova de raciocinar e de viver em conjunto. Se até agora a competição era natural, se era inculcada nas crianças, é porque o nosso sistema económico tinha sido concebido numa época onde os bens produzidos eram raros, era portanto a corrida para ser o melhor servido.

Somos levados a pensar e a agir doutro modo quando estamos diante dum bufete bem guarnecido e assegurado que será reabastecido por encomenda. Pois que a grande substituição da mão da obra humana pela ciência, em primeiro lugar pela máquina e agora pela informação, permite assegurar a produção das riquezas, é a ocasião de nos desembaraçarmos ao máximo destas tarefas materiais, e de nos libertarmos para outras actividades. Inventemos portanto outras relações sociais para primeiramente, que a produção seja assegurada utilizando ao máximo as tecnologias mais competitivas, e em segundo que ela seja distribuída entre todos, satisfazendo o mais que possível as suas necessidades segundo os seus desejos.

Ousemos por em questão as ideias feitas para procurar em conjunto como organizar a nossa sociedade, não mais num espírito de competição onde cada um procura ser o melhor, ser aquele que bate ou mesmo elimina todos os outros para desengatar o bocado, mas num espírito de cooperação, procuremos como nos organizar para que justamente, cada um possa expandir-se aproveitando o mais possível este património de conhecimentos do qual as gerações precedentes, tacitamente associadas, souberam fazer-nos a todos co-herdeiros.



NOTAS



1- Jean Bancal - Proudhon, Pluralisme et Autogestion, ed.Aubier-Montaigne, Paris, 1970, tomo II, p.217.



2 - Id., ibid., p.216.



3 - Jacques Langlois - Défense et Actualité de Proudhon, Petite Bibliothèque Payot, Paris, 1976, p.37.



4 - P.-J. Proudhon - Les Mélanges (título dado a três volumes da obra em vinte e seis volumes de Proudhon), ed.Lacroix, Bruxelles, 1867-1870, tomo III, p.53. As “Les Mélanges” representam uma recolha de artigos aparecidos no Representante do povo, o Povo, a Voz do povo, o Povo (1850), assinados por Proudhon.



5 - P.-J. Proudhon - Les Confessions d`un Révolutionnaire pour servir à l`histoire de la Révolution de février, ed.Garnier, 1849, cap.2, p.34.



6 - Id., ibid.



7 - Les Mélanges, op.cit., tomo III, p.21 e seguintes.



8 - Ibid.



9 - Les Confessions, op.cit., cap.15.



10 - Les Mélanges, op.cit., tomo III, p.77, in La Voix du peuple, 11 Janeiro 1850.



11 - Les Confessions, op.cit., cap.1, p.34.



12 - Proudhon - Pluralisme et Autogestion, op.cit., tomo I, p.226.



13 - Ibid.



14 - Les Confessions, op.cit.



15 - P.-J. Proudon - De la Justice, “L`Etat”, 2ª Edição, Bruxelas 1860, pp.183-186.



16 - Les Mélanges, op.cit., tomo III, p.11.



17 - Emmanuel Mounier - Communisme, Anarchie et Personalisme, ed.Du Seuil, Paris, 1966, p.138 e seguintes.



18 - Proudhon - Pluralisme et Autogestion, op.cit., tomo II, p.225.



19 - Daniel Guérin - L`Anarchisme, éd.Gallimard, coll. Idées, Paris, 1965.



20 - Emmanuel Mounier - Communisme, Anarchie et Personalisme, ed. Du Seuil, Paris, 1966, p.138 e seguintes.

sábado, 4 de dezembro de 2010

best of socrates (2009 - 2010)



Hoje há palhaços...

OS NOVOS LUSÍADAS


Alguém me fez chegar estas novas estâncias dos Lusíadas. Estão metricamente quase perfeitas e actualizadíssimas quanto ao conteúdo. Desconheço o autor, para lhe elogiar o engenho...

I


As sarnas de barões todos inchados
Eleitos pela plebe lusitana
Que agora se encontram instalados
Fazendo aquilo que lhes dá na gana
Nos seus poleiros bem engalanados,
Mais do que permite a decência humana,
Olvidam-se de quanto proclamaram
Em campanhas com que nos enganaram!

II

E também as jogadas habilidosas
Daqueles tais que foram dilatando
Contas bancárias ignominiosas,
Do Minho ao Algarve tudo devastando,
Guardam para si as coisas valiosas...
Desprezam quem de fome vai chorando!
Gritando levarei, se tiver arte,
Esta falta de vergonha a toda a parte!

III

Falem da crise grega todo o ano!
E das aflições que à Europa deram;
Calem-se aqueles que por engano...
Votaram no refugo que elegeram!
Que a mim mete-me nojo o peito ufano
De crápulas que só enriqueceram
Com a prática de trafulhice tanta
Que andarem à solta só me espanta.

IV

E vós, ninfas do Coura onde eu nado
Por quem sempre senti carinho ardente
Não me deixeis agora abandonado
E concedei engenho à minha mente,
De modo a que possa, convosco ao lado,
Desmascarar de forma eloquente
Aqueles que já têm no seu gene
A besta horrível do poder perene!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Angela GHEORGHIU - Habanera - Carmen - Bizet



Porque o amor é preciso!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

UM IMENSO DESEJO DE CANTAR




IMPRUDÊNCIAS

Há sempre, no amor, uma imprudência
um dizer atento
uma flor centrada na alegria da água

Há sempre um esboço de dança
uma gestação de ouro e seda.

O primeiro céu, a primeira colheita
o alvorecer das mãos
no corpo celeste.

Há sempre, no amor, uma mina insondável
um espólio de giestas e searas profundas.

E um imenso desejo de cantar.

Fernando Jorge Fabião

domingo, 7 de novembro de 2010

CLASSES SOCIAIS



«A sociedade compõe-se de duas classes: os que têm mais jantares que apetite, e os que têm mais apetite que jantares»

Nicolas de Chamfort, (Clermont-Ferrand, 6 de abril de 1740[1] — Paris, 13 de abril de 1794) foi um poeta, jornalista, humorista e moralista francês.


terça-feira, 2 de novembro de 2010

The Walkmen - "Four Provinces"

Gosto desta voz!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

UM MULHER!



Poucas mulheres chegam ao topo da vida política, é um facto que lamento.
Mas hoje chega à Presidência do Brasil UMA MULHER!
O que saúdo efusivamente!

Da TSF:

«Quando estão apurados 90 por cento dos votos, Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), continua a liderar as eleições presidenciais no Brasil.

De acordo com o tribunal Superior Eleitoral, Dilma Rousseff tem 55,22 por cento dos votos, contra 44,78 por cento para José Serra, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Dilma Rousseff torna-se a primeira mulher a ocupar a Presidência brasileira. A tomada de posse será a 1 de Janeiro de 2011.»

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Acordo Ortográfico: concorde-se ou não

Acordo Ortográfico: concorde-se ou não

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http://sobreisso.com/2010/03/23/novo-acordo-ortografico-da-lingua-portuguesa-principais-mudancas/

Vamos dar uma olhada nas principais mudanças que ocorreram na Língua Portuguesa devido ao Novo Acordo Ortográfico.


Hífen (-): deve ser usado com prefixo + h (super-homem), na duplicidade de vogais (semi-interno), na duplicidade de rr (hiper-requintado), deixa de ser usado com prefixo terminado em vogal + r ou s, que dobram (aintirreligioso, minissaia), também com prefixo terminado em vogal diferente da do elemento seguinte (autoestima).

Trema (ü): deixa de ser usado em nomes comuns.

Acento agudo (´): deixa de ser usado nos ditongos “éi” e “ói” das paroxítonas (ideia, heroico), também nos “í” e “ú” seguidos de ditongo nas paroxítonas (feiura, sainha).

Acento circunflexo (^): deixa de ser usado em “vêem” (eles veem), “crêem” (eles creem), “lêem” (eles leem), “dêem” (que eles deem), também em palavras terminadas com “ôo” (voo).

Não esqueça que “têm” (eles têm) continua com acento; e “tem” (ele tem) continua sem acento.

Para quem vai fazer provas ou concursos, é importante ver o edital. Caso nada conste, significa que serão aceitas as duas formas, a velha e a nova, pois a nova passa a ser lei apenas em 2012.

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http://www.ciberduvidas.com/controversias.php?rid=2151
 
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http://aeiou.visao.pt/guia-pratico-para-perceber-o-acordo-ortografico=f543282
 
 
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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A GRANDE MARCHA FOI HÁ 75 ANOS

Mao Tse-tung na Grande Marcha

Foi em 20 de Outubro de 1935 que terminou aquela que viria a ser conhecida pela "Grande Marcha". Cerca de 8 000 sobreviventes do exército comunista de Mao Tse-Tung que haviam atravessado a China, a pé, numa espantosa odisseia humana, encontram refúgio numa província do noroeste, após um ano e quatro dias de retirada perante o exército de Tchang Kai-Chec. Será este núcleo de resistentes que manterá viva a esperança de milhões de chineses e levará Mao Tse-Tung ao controlo total do país, em 1949. Que só terminará em 1976, com a morte de Mao. Virá depois a tomada do poder pela nova política que transformou a China dos excessos revolucionários no país de desenfreada exploração do trabalho humano dos nossos dias.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Uirapuru - Nilo Amaro e Seus Cantores de Ébano

De vez em quando gosto de ouvir este canto magnífico. Mais uma vez...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Valsinha de Chico Buarque

Tal como a "Minha História", esta "Valsinha" é do melhor que alguma vez foi feito pela Música Popular Brasileira. A beleza sublime das coisas simples!

sábado, 2 de outubro de 2010

COISAS ÚTEIS QUE UM BURRO DIZ



O JUMENTO faz parte dos meus favoritos. Porque não fala à toa, é desalinhado partidariamente e é oportuno.
Aqui se prova que os burros têm razão quando dizem "e eu é que sou o burro...?"
Leiam-se estas judiciosas sugestões e perceba-se por que digo isto...

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

OS LIVROS. OS LIVROS. OH! OS LIVROS!


Lido hoje no "BIBLIOTECÁRIO DE BABEL":

(...)
“Mas tem um método de leitura rápida?”, perguntam-me. Sim, claro que tenho. É o seguinte: faz cinquenta anos que passo uma grande parte do meu tempo a ler todo o tipo de obras, em todo o tipo de circunstâncias, para todo o tipo de fins. Como em qualquer actividade que se torna familiar (seja ela manual, artística ou desportiva), cria-se uma relação especial com o objecto em questão, no caso a coisa impressa (”São necessários muitos anos de trabalho para que as engrenagens cerebrais da leitura, já bem oleadas, deixem de ser conscientes”, Stanislas Dehaene). O importante não é ler depressa mas ler cada livro à velocidade que ele merece. É tão pernicioso demorar tempo demais com alguns do que ler outros demasiado rápido. Há livros que ficamos a conhecer folheando-os, outros que só compreendemos à segunda ou terceira leitura, outros ainda que poderemos reler com proveito toda a vida. Um policial lê-se em poucas horas, mas preparar uma aula sobre algumas páginas de The Waste Land, de T. S. Eliot, exige vários dias. Mas o cúmulo do desequilíbrio entre o tempo passado com um texto e a sua extensão estaria sem dúvida num trabalho de análise ao célebre monóstico de Apollinaire: “Et l’unique cordeau des trompettes marines”! Escrever um artigo para a imprensa sobre uma obra que acaba de ser publicada exige – pelo menos no que me diz respeito – duas leituras: a primeira para descobrir o livro enquanto leitor inocente, a segunda para dar uma ordem às impressões e ideias que o livro me suscitou. E depois, é um facto que esquecemos a maior parte do que lemos.»
(...)

Fica a referência a um ensaio sobre a leitura, a sair em 8 de Outubro p.f., base deste artigo:

Pierre Bayard, em Comment parler des livres que l’on n’a pas lus? (Minuit, 2007; Como falar dos livros que não lemos?, tradução de Maria Amaral e Sílvia Sacadura, Verso da Kapa, 2008)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

BONECOS A PROPÓSITO...

O Antero Valério é um cartonista de mérito. E como é professor não deixa passar nada em claro...
Ver AQUI.

domingo, 19 de setembro de 2010

AVE Mundi by Rodrigo Leao

Sublime!!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Tom & Jerry - Cat Concerto

Um clássico da animação, feito e premiado nos anos 40. Um portento de graça!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

LEMBRAR NATÁLIA CORREIA


Faria hoje 87 anos.
Figura marcante da intelectualidade portuguesa entre os anos 50 e 80. Terror para alguns, deusa encantada para outros. O que conta hoje é a obra literária que nos legou.
AQUI podemos ler uma evocação muito interessante de Natália Correia.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

RELER ANTERO, SEMPRE...

Antero de Quental, Santa Cruz, Torres Vedras

Está na hora de reler as "Causas da Decadência dos Povos Peninsulares", de Antero de Quental. Está lá tudo...

NÃO ACEITAR O QUE PARECE ADQUIRIDO COMO ARTIGO DE FÉ

Fátima não é artigo de fé para os católicos. Mas às vezes até parece que sim, sobretudo quando o próprio chefe da Igreja Católica vem a Fátima, parecendo dar aval a uma construção humana que muitos ainda atribuem ao divino.
Aprecio os homens que sabem dizer "NÃO!" Caso do Padre Mário de Oliveira.
Veja-se esta carta dele aos bispos portugueses, em 2007:


Meus irmãos Bispos

1. Completam-se, agora, como sabeis, 90 anos (1917-2007) sobre a grosseira mentira, posta a circular em 1917 no nosso país acerca dumas pseudo aparições de nossa senhora, sempre ao dia 13 de cada mês e durante seis meses consecutivos, de Maio a Outubro, a três crianças da freguesia de Fátima. Uma mentira que alguns párocos de Ourém e arredores logo habilmente aproveitaram (se é que não foram eles próprios os seus inventores, como tudo leva a crer que sim) e, depois, tudo fizeram para que ela fosse acolhida e interiorizada pelas populações católicas como a maior das verdades. Este crime sem perdão, que também perfaz um pecado contra o Espírito Santo viria a ser publicamente corroborado e apoiado, não muito tempo depois, por alguns bispos residenciais do país, nomeadamente, de Lisboa, Évora, Beja, Faro, Coimbra, Braga, Angra, Funchal e até do Porto, numa operação concertada, com tudo de maquiavélico e de perverso. Aliás, a diocese do Porto até cedeu um dos seus padres cónegos para 1.º Bispo residencial da Diocese de Leiria, restaurada, poucos meses depois (e não se diga que foi mera coincidência!). D. José Alves Correia viria a revelar-se como a principal peça-chave na consolidação definitiva de toda esta ignomínia.


2. A grosseira mentira teve, por isso, desde a primeira hora, pés para andar, até porque, além do mais, as populações católicas do país eram na altura (infelizmente, ainda hoje são!) populações esmagadoramente analfabetas em teologia jesuânica e viviam, por aqueles dias, visivelmente desorientadas e em pânico, devido à recente implantação da República e às drásticas medidas que aquela não se inibiu de tomar, e bem, contra os seculares e até então intocáveis privilégios do clero e da Igreja católica romana em Portugal.
Por outro lado, eram também populações completamente aterrorizadas por catequeses e pregações terroristas, proferidas noite dentro ou antes do nascer do sol, à luz fantasmagórica de velas (não havia luz eléctrica), proferidas do alto dos púlpitos paroquiais pelos padres da chamada Santa Missão, todas elas inspiradas no mais terrorista dos livros portugueses do século XIX que dá pelo nome de Missão Abreviada, escrito por um padre português, de seu nome Manoel Couto, ele próprio um perturbado e aterrorizado capelão de freiras em Chaves que via demónios em todo o lado, pecados mortais em todas as acções dos seres humanos, mesmo as mais inocentes, como dançar, namorar, abraçar e beijar, e horrendos castigos de Deus concretizados em insuportáveis labaredas do inferno que torturavam e faziam ganir como cães raivosos, dia e noite e por toda a eternidade, as almas dos pobres pecadores condenados, praticamente todas as pessoas até então falecidas (basta ver que, no dizer dessas terroristas catequeses e pregações, era mais fácil encontrar um corvo branco do que salvar-se uma alma!!!).


3. Digo-vos aqui publicamente, meus irmãos Bispos, e sem que a voz e a mão me tremam: São 90 anos de mentira, a mais grosseira e a mais cruel. E 90 anos de crime, o mais blasfemo e o mais horrendo, porque os seus mentores e divulgadores não hesitaram nem hesitam em meter os nomes de Deus, de Jesus e de Maria, sua mãe, em todo este “cozinhado” eclesiástico-católico sem pés nem cabeça, convertido, com o passar dos anos, numa engenhosa fábrica de fazer dinheiro sem paralelo no resto do país, porventura, até na Europa, totalmente isento de impostos (não é por acaso que qualquer congregação religiosa de frades ou de freiras não descansou, enquanto não conseguiu abrir uma casa em Fátima, o mais espaçosa possível, para nela acolher “peregrinos”, pois claro!), e num espaço-altar onde se promove e alimenta um certo tipo de cristianismo católico desgraçado, sem dúvida, o principal responsável por muito do saudável ateísmo generalizado com que hoje estamos cada vez mais confrontados no país e na Europa ocidental. (E como se não bastassem a enorme basílica-túmulo que lá funciona e a espaçosa esplanada com a sua capelinha-cofreforte-ou-banco, ainda se lhes junta este ano mais uma medonha Igreja, denominada da SS.ª Trindade, como se Deus Vivo, o de Jesus, alguma vez vivesse em templos construídos pela mão dos homens, nomeadamente, os homens do poder e dos privilégios, como são os clérigos que nesses locais, mentirosamente ditos sagrados, a tudo presidem como pequenos deuses infalíveis e intocáveis!...)


4. Quem lê com um mínimo de atenção ilustrada e evangélica e também com um mínimo de sentido de dignidade humana, a Documentação Critica de Fátima (hoje, já com vários volumes publicados), compilada com o propósito expresso de justificar cientificamente a veracidade das “aparições”, só pode concluir que, do primeiro ao último momento, tudo aquilo está atolado/conspurcado por pés, mãos e cabeças de clérigos e de bispos residenciais, completamente esvaziados de teologia jesuânica, todos firmemente apostados em impor aquela grosseira mentira ao país e ao mundo. Não há em todo o processo uma única voz dotada de bom senso e de sanidade mental e teológica. Todos os intervenientes actuam manifestamente com o típico espírito de zelosos “cruzados de Fátima”, numa causa que a hierarquia católica por nada deste mundo quis que ficasse pelo caminho, porque representava o seu maior trunfo-vingança contra a República e contra os seus nobres ideais de Verdade, de Liberdade, de Igualdade, de Justiça e de Dignidade humana.


5. O processo que se arrastou, ao longo destes últimos 90 anos e vai certamente prosseguir por muitos mais tem infelizmente contado com a criminosa cumplicidade, feita de distanciamento e de silêncio, de intelectuais católicos e não católicos, inclusive de teólogos e biblistas de todas as Igrejas, que teimam em optar pelo faz-de-conta, como se não fosse nada com eles. E, assim, o que pode ter começado por ser um ingénuo teatrinho catequético, concebido pelos padres da Santa Missão para tentar impor às populações das aldeias a reza do terço, a pia devoção ao Imaculado Coração de Maria e a confissão mensal, e também para meter algum “medo” e “respeito” aos “maçons”que fizeram a revolução da República, engrossou depois, através dos tempos, como um caudal de águas envenenadas, sempre com novos e surpreendentes dados, que nem os principais protagonistas de 1917 conheciam, e que foram sucessivamente acrescentados por clérigos sem escrúpulos, segundo as necessidades e as conveniências de cada momento histórico.
As delirantes Memórias da Irmã Lúcia, iniciadas em 1935 por pressão desses mesmos clérigos que faziam da pobre freira gato-sapato, são, neste particular, o que há de mais aberrante exemplo de manipulação clerical e de delírio eclesiástico. Mas são essas famigeradas Memórias que estão na origem da chamada “Fátima Dois”, por sinal, ainda totalmente desconhecida à data (1930) em que o 1.º Bispo de Leiria publicou a sua Carta Pastoral a dar como “dignas de crédito” as aparições e toda a mentira de Fátima que elas objectivamente constituem. Será que vós, meus irmãos bispos, não sabeis estas coisas? Será que preferis ser cegos e guias cegos?


6. Na retaguarda de toda esta mentira, tem estado sempre, desde o primeiro momento até aos nossos dias, um núcleo duro de cérebros clericais, poucos, mas bem concertados entre si. Ora, vestiram o papel de jornalistas que faziam caricatas perguntas às três crianças, ou o papel de inquiridores sobre o “fenómeno”, junto de crédulos e submissos paroquianos escolhidos a dedo. Eles próprios deram as respostas a essas perguntas como melhor convinha aos seus maquiavélicos propósitos (nada foi deixado ao acaso, mas foi assim que nasceu a chamada Documentação crítica de Fátima, toda ela cheia de parra e uva nenhuma, compilada/tratada “cientificamente” e editada, também ela por outros clérigos!); ora vestiram o papel de confessores e de directores espirituais das crianças, sobretudo da sobrevivente Lúcia, depois que esta foi empurrada por eles para a vida de freira de clausura (uma barbaridade sem nome, muito pior do que um ocasional crime de pedofilia!); ora vestiram e ainda vestem o papel de bispos que tudo aprovam e justificam como do interesse de Deus (para este tipo de eclesiásticos, os interesses da Igreja, mesmo os mais inconfessáveis e perversos são sempre interesses de Deus!); e, finalmente, até vestiram o papel de papa de Roma, com destaque para o polaco João Paulo II, um compulsivo fatimista primário, porventura bem-intencionado, mas que tudo tentou para levar de novo a Igreja do Vaticano II aos tempos e às alienantes devoções pre-conciliares, sem se aperceber que todas elas são pagãs, deístas, inumanas, e referentes ao universo religioso das deusas e dos deuses inventados por ancestrais medos das populações não ilustradas e não evangelizadas.


7. Como já disse, nada foi deixado ao acaso, desde o primeiro instante. Até que, em Outubro de 1930, a Mentira das aparições foi declarada digna de crédito pelo 1.º Bispo da restaurada diocese de Leiria, mediante uma Carta Pastoral que, só por si, deveria fazer corar de vergonha a Igreja do Concílio Vaticano II. O documento episcopal, datado de 13 de Outubro de 1930 foi publicado na íntegra, três dias antes, na edição de 10 de Outubro pelo diário católico “Novidades”!!! Apoia-se todo ele num extenso e prolixo Relatório, escrito pelo Cónego Nunes Formigão (querem agora beatificá-lo e canonizá-lo, certamente como recompensa pelos serviços que prestou à causa da mentira de Fátima!), o qual, por sua vez, quase se limita a transcrever pedaços inteiros dos delirantes livros que ele próprio havia escrito e editado anteriormente, sempre sob o pseudónimo de Visconde de Montelo, com o notório objectivo de impor como verdade a mentira de Fátima ao país e ao mundo.


8. A data escolhida para a aprovação oficial da mentira de Fátima também não foi inocente. O Estado Novo de Salazar dava então os primeiros passos e carecia como de pão para a boca duma mãozinha do “céu” (entenda-se, dos clérigos católicos) para se impor definitivamente no país contra a República de 1910 e contra os seus nobres ideais (e não é que há até uma carta atribuída à delirante Irmã Lúcia que fala de Salazar como o escolhido por Deus para conduzir de novo o nosso país aos caminhos da religião católica?!). Ora, como um favor com outro favor se paga, Salazar, uma vez consolidado no Poder, lá assinou a Concordata com o Estado do Vaticano e restituiu à Igreja portuguesa os privilégios dos clérigos e muito do património eclesiástico anteriormente nacionalizado.


9. Entretanto, das três crianças instrumentalizadas para ajudar a dar corpo à mentira de Fátima, todas elas de muito tenra idade e sem saberem ler nem escrever, Jacinta e Francisco eram irmãos de sangue, primos e vizinhos de Lúcia, a mais velhinha, a quem por isso coube naturalmente o papel de actriz principal em todo aquele teatrinho de mau gosto. Foi também a única que sobreviveu a todo aquele frenético alvoroço eclesiástico das pseudo-aparições, já que Jacinta e Francisco, de tão fragilizados e aterrorizados pelo medo do inferno incutido pelos pregadores da Santa Missão não resistiram à pneumónica que, pouco tempo depois da mentira de Fátima, grassou na região e dizimou muita gente (como vêem, meus irmãos Bispos, nem a senhora de Fátima, com tanta fama de milagreira lhes valeu, nem valeu às populações empobrecidas da região). Mas o que ainda mais dói, na morte antes de tempo destas duas crianças irmãs é o escandaloso abandono a que Jacinta e Francisco foram votados, durante a doença, por parte dos clérigos que as utilizaram, como a deixar perceber que até lhes convinha que elas morressem. A mentira de Fátima teria assim mais facilmente pés para andar. O que veio a suceder, sobretudo depois que conseguiram manter sequestrada por toda a vida e em progressivo estado de delírio, a única sobrevivente, Lúcia.


10. Eis, meus irmãos Bispos o que achei por bem dizer-vos nesta ocasião dos 90 anos da mentira de Fátima. Não me queirais mal por isso. Sabei que o que me move é o amor à causa do Evangelho que, como presbítero da Igreja do Porto, me cumpre anunciar oportuna e inoportunamente. Ai de mim, se não evangelizar. Bem sei que a mentira de Fátima é por vós oficialmente apresentada, desde a primeira hora, como uma epifania de Deus. Mas esse é o seu pecado maior. Porque a Deus, o de Jesus, nunca ninguém o viu nem verá. “O Filho unigénito, que é Deus e está no seio do Pai, é que O deu a conhecer" (Jo 1, 18). Sabeis como eu que o que não for assim é mentira, delírio, perversão demoníaca. Nem argumenteis que há fenómenos que nos ultrapassam e que não somos capazes de explicar. Porque, em nome da Fé de Jesus, uma coisa sempre teremos de dizer: Pois se não sabeis explicar este ou aquele fenómeno, investigai mais, até conseguirdes. E, enquanto não conseguirdes, livrai-vos de, em momento algum admitir que pode ser uma manifestação miraculosa de Deus. Nesse momento, abristes a porta à idolatria, a mais abjecta. E não será por sermos um país caído em idolatria, praticamente desde a fundação da nacionalidade, que somos hoje o povo que somos? Pensai nisto que vos digo, meus irmãos bispos. E, se tiverdes coragem, mudai radicalmente de vida e de Deus. Abandonai o falso Deus da senhora de Fátima, com tudo de vampiro e de demoníaco, e deixai-vos amar/conduzir pelo Deus Vivo, o de Jesus. E de Maria. Deixo-vos o meu afecto e a minha paz.



A idealização e a pobre realidade...





!...)

domingo, 29 de agosto de 2010

Andrea Bocelli - Canto Della Terra (TRADUZIDO)

Porque estás aqui, SEMPRE!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

CANTAR


Por que cantamos”

De Manoel de Andrade para Mário Benedetti(*)

Se tantas balas perdidas cruzam nosso espaço
e são tantos os caídos nesta guerra...
Se há uma possível emboscada em cada esquina
e temos que caminhar num chão minado...
você perguntará por que cantamos”
Se a violência sitia os nossos actos
e a corrupção gargalha da justiça
Se respiramos esse ar abominável
impotentes diante do deboche...
você perguntará por que cantamos”
Se o medo está tatuado em nossa agenda
e a perplexidade estampada em nosso olhar
se há um mantra entoado no silêncio
e as lágrimas repetem: até quando, até quando, até quando...
você perguntará por que cantamos”
Cantamos porque uma lei maior sustenta a vida e
porque um olhar ampara os nossos passos
Cantamos porque há uma partícula de luz no túnel
da maldade
e porque nesse embate o amor é invencível
Cantamos porque é imprescindível dar as mãos
e recompor, em cada dia, a
condição humana
Cantamos porque a paz é uma
bandeira solitária
a espera de um punho inumerável
Cantamos porque o pânico não retardará a primavera
e porque em cada amanhecer as sombras batem em retirada
Cantamos porque a luz se redesenha em cada aurora
e porque as estrelas e porque as rosas
Cantamos porque nos riachos e na fonte as águas cantam
e porque toda essa dor desaguará um dia.
Cantamos porque no trigal o grão amadurece
e porque a seiva cumprirá o seu destino
Cantamos porque os pássaros estão piando
e ninguém poderá silenciar seu canto.
Cantamos para saudar o Criador e a criatura
e porque alguém está parindo neste instante
Pelo encanto de cantar e pela esperança nós cantamos
e porque a utopia persiste a despeito da descrença
Cantamos porque nessa trincheira global, nessa ribalta,
nossa canção viverá para dizer por que cantamos.
Cantamos porque somos os trovadores desse impasse
e porque a poesia tem um pacto com a beleza.
E porque nesse verso ou nalgum lugar deste universo
o nosso sonho floresce deslumbrante.

Manoel de Andrade
Curitiba, Maio de 2003

(*)Escrevi estes versos motivado pelo belíssimo poemaPOR QUE CANTAMOS” do poeta uruguaio MARIO BENEDETTI. Num tempo em que todos caminhamos sobre o “fio da navalhame senti, como poeta, implicitamente convocado a também testemunhar por que cantamos.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

UM ALPIARCENSE ENTRE AS FOCAS




Alpiarça é como Portugal: capaz do pior e do melhor.
Quem havia de dizer que ali nasceu o ás dos domadores de mamíferos marinhos?
Veja-se AQUI e pasme-se.
Só posso bater palmas afincadamente, e pedir bis... bis... encore....

Para quem não quiser linkar - perdendo assim a possibilidade de visitar um belo blogue sobre Alpiarça - aqui fica o texto:

«Miguel Pais, nosso conterrâneo de Alpiarça, é um dos mais conceituado treinadores de mamíferos marinhos, sobretudo leões-marinhos, focas e golfinhos, que tem feito uma carreira quase exclusivamente internacional, pois tem sido contratado por alguns dos mais importantes parques a nível europeu para treinar mamíferos marinhos. Depois de alguns anos no Zoomarine do Algarve, foi convidado para abrir o Zoomarine Itália, nos arredores de Roma, onde permaneceu 4 anos. Na altura da sua permanência em Roma foi convidado a realizar uma conferência sobre as Focas, nomeadamente o seu comportamento na fase de gravidez, que foi muito aplaudida durante a realização da Conferência Mundial de Treinadores de Mamíferos Marinhos realizada no México. Foi depois contratado para trabalhar no Delfinário de Rimini, um dos maiores centros turísticos italianos nas margens do Mar Adriático. Este ano o convite surgiu do Mediterraneo Marine Park, situado em Malta onde se encontra neste momento em plena actividade.



Ao mesmo tempo o Miguel tem direccionado sua atenção sobre os cães e a aplicação dos métodos mais modernos e inovadores na interacção com os cães, nomeadamente ao nível da pedagogia e da psicologia canina, tendo como professor um dos mais conceituados técnicos mundiais nesta matéria, o italiano Roberto Marchesini, docente de Psicologia da Linguagem e da Comunicação na Universidade de Udine, Presidente da Sociedade Italiana de Ciência Comportamental Aplicada e director da Escola de Interacção Homem-Animal, nesta vertente tem em preparação a apresentação de alguns workshops sobre o modo de lidar e conviver com os cães, apresentação esta vocacionada para as escolas e para os que pretendam novas abordagens sobre a interacção com o fiel amigo .


Nota: Miguel Pais, é filho do ex-presidente da Junta de Freguesia de Alpiarça, José João Marques Pais»

sexta-feira, 30 de julho de 2010

UNS DIAS DE FÉRIAS..

Com Beethoven...

domingo, 25 de julho de 2010

Seja um engenheiro em 12 aulas práticas

Este blogue apoia as "NOVAS OPORTUNIDADES".

Aproveite as férias, faça-se "Engenheiro" ou, mesmo, "Sr. Engenheiro".

sexta-feira, 23 de julho de 2010

AS MULHERES DE CAMILO...

Parece que Camilo Castelo Branco sofreu muito com as mulheres. O que é bem feito porque as mulheres também sofreram muito com ele.






Andando eu pela leitura de mais um dos seus impagáveis romances ("Coração, Cabeça, Estômago"), estorci-me a rir com esta sextilha de truz:

Mulher!, em ânsias me estorço,
Punge-me dentro o remorso
De te não calcar aos pés!
Tinha uma crença... mataste-a!
Tinha uma luz... apagaste-a!...
Mulher!, que monstro tu és!



Isto é que era poesia! Directa ao assunto, a escorrer pus da alma...
A ver se consigo escrever uma coisa parecida sobre alguns políticos que conheço!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Funny (JK Wedding Entrance) jill and kevin unexpected divorce hearing en...

Ir a um casamento é uma das formas mais enfadonhas de passar um dia, é ou não é?

Mas estes resolveram o problema dos convidados. Puro divertimento!

Eles vão casar-se ou divorciar-se? As duas coisas, pelos vistos...